HISTÓRIA SENTIMENTAL DO BORDADO
BORDAR É: ornamentar com desenhos feitos com agulha (segundo os dicionários).
Esta frase era o começo de um texto que tentaria reunir informações sobre os primeiros bordados e um pouco da sua história. Mas daí o olho relê, a cabeça pensa e damos um grande suspiro… Bordar é ornamentar com desenhos feitos com agulha: quanta história cabe nessa frase.
Desde as mulheres da Grécia Antiga até as descoladas bordadeiras de hoje, quantas histórias individuais foram escritas em paralelo à agulha que sobre e desce.
Quantos bordados fizeram parte da vida de alguém, que bordou ou ganhou uma peça que se manteve na família atravessando gerações.
Quantas mulheres não tiraram desse ofício o seu sustento, sobrevivendo numa sociedade quase sempre injusta com elas.
Quantas histórias coletivas foram registradas com esses pontos insistentes, e hoje estão guardadas nos museus do mundo, silenciosamente esperando o nosso olhar.
Quanto sentimento de espera e expectativa de uma vida perfeita não foi deixado em cada enxoval bordado (interessante pensar que as separações, inevitáveis, nunca eram registradas, nunca houve um “enxoval de divorciada”).
Quantas mulheres que tiveram sua criatividade externada através dos panos de prato decorados pacientemente, já que, para nós mulheres, durante muito tempo, ser artista era proibido, assim como ver certas peças, ouvir certas músicas, ler certos livros.
E quantas outras não tiveram seu gênio domado à força pelo bordado que eram obrigadas a fazer, encolhidas pela ditadura de um avesso perfeito e de um ofício que forçosamente ocupava o tempo e as ideias. É o lado triste da história do bordado, mas acontecia…
E as histórias de luta bordadas por mulheres que escolheram as agulhas para registrar e denunciar as injustiças cometidas em seus países, contra seus filhos, contra elas mesmas, contra suas ideias e posturas políticas?
Quanta vida não passou por cada ponto.
Bordar é ornamentar a própria vida com desenhos feitos com agulha.
As peças bordadas são dadas de presente, vendidas, distribuídas; mas carregam consigo um pedaço do tempo de vida da bordadeira, um pedaço de tanta coisa que ela pensou ou sentiu enquanto a agulha trabalhava.
Essa história sentimental do bordado não está escrita em nenhum livro, mas está escrita em todos os bordados já feitos. TODOS.
Era para ter sido um texto quase técnico, com informações destinadas a aumentar o conhecimento sobre esse assunto tão cheio de história, mas felizmente esta frase nos atravessou e nos desviou para o caminho certo: antes de pensar com a cabeça, bora pensar com o coração.
Cada vez que você tiver em mãos uma peça bordada, tente escutar essa história secreta.
Bordar é ornamentar a própria vida com desenhos feitos com agulha.
Lísia Maria/Bordadologia. Setembro de 2017.
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